
"A lei seca foi uma pá de cal no nosso trabalho", ressente-se Faéti, que acabou de perder o emprego em um bar na Praça d. José Gaspar, no centro, onde tocava toda quinta-feira. "Eu sou macaco velho, toco desde 1981. Na minha época, até festa evangélica era boêmia. Isso não existe mais, por causa da lei do silêncio, da lei seca, as coisas estão afunilando. Hoje o camarada não bebe, sai cedo do bar para ir para casa, não vai com tanta freqüência. A noite de São Paulo já não é mais a mesma, a boemia acabou."
O ressentimento é cada vez mais amplo. E a lei seca, que proíbe os motoristas de dirigirem depois de terem ingerido qualquer quantidade de bebida alcoólica, é apontada como a grande vilã. Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), a queda do movimento nos bares varia de 20% a 40% nas noites de quinta e sexta-feira e nos fins de semana, quando ocorrem as blitze policiais. Muitos têm feito promoções (dois chopes pelo preço de um), incentivado os clientes a usar táxi (no CB Bar, na Barra Funda, quem chega de carona ganha desconto) e criado as mais diversas alternativas (na festa Trash 80?s, no centro da capital, seguranças foram contratados para acompanhar os clientes que chegam ou vão embora de metrô).
Pela estimativa do Sindicato dos Trabalhadores no Comércio e Serviços em Geral de Hospedagem, Gastronomia, Alimentação Preparada e Bebida a Varejo de São Paulo (Sinthoresp), houve um aumento de 15% nas demissões em bares, restaurantes, lanchonetes e hotéis no mês de julho. O setor emprega ao todo cerca de 300 mil pessoas - entre elas, centenas de músicos profissionais, a ponta mais recente dos reflexos da lei seca. "Antes eu fazia shows a semana inteira, arrebentava a boca do balão, era uma delícia", conta o cantor Léo Marcos. "Hoje nem tenho feito mais casas noturnas, o trabalho sumiu."
FRASE
Celso Luis de Oliveira
Músico
"Hoje a gente fez até festa em condomínio no Itaim para conseguir continuar tocando e ganhando. Só que, no fundo, não é o ideal. Lugar de músico da noite é no bar, não dentro do prédio residencial. Músico vive de aplauso e esperança de que um dia vai ser descoberto, que vai tocar no Faustão. E isso vai acontecer no botequim, não em casamento e batizado"
FONTE: ESTADÃO